Livro mostra como a velhice LGBT+ é um ato de resistência

Depoimentos retratam o enfrentamento de um duplo preconceito: contra o envelhecimento e a orientação sexual Na próxima quinta-feira, dia 7, será lançado “O brilho das velhices LGBT+”, com depoimentos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e pansexuais entre 47 e 72 anos. Sobre esse grupo pesam diversas camadas de estigma: além do etarismo ou idadismo, também o preconceito contra sua orientação sexual. Ao todo, foram 55 horas de gravação que resultaram em 20 relatos, colhidos durante seis meses ao longo do ano passado. Denise Taynáh é quem abre o livro, afirmando: “a sociedade me define como uma mulher trans, mas eu me percebo como uma mulher não genética”. Batizada como Luiz Celso, Denise viveu um papel masculino e foi pai sete vezes até os 50 anos. “Depois que meu pai faleceu, eu me soltei um pouco”, conta. Deu os primeiros passos como crossdresser (usando roupas femininas) e, aos poucos, foi descobrindo que não queria apenas montar um figurino caprichado, e sim ser feminina em tempo integral. Parada LGBT em Nova York: ao envelhecer, esse grupo fica ainda mais vulnerável, tornando-se vítima de negligência e discriminação LazarCatt Dora, lésbica de 67 anos, também se casou e teve uma filha, sem conseguir sentir prazer. Só mais tarde passou a viver sua sexualidade plenamente, mas relata duas experiências ruins: a de um relacionamento interesseiro e, outro, abusivo. José Carlos, bissexual de 54 anos, é incisivo: “sou negro, periférico, filho de pobre, entendeu? Sou um sobrevivente, um vitorioso, só por ser negro e estar vivo nessa idade, passando por tudo que um negro passou”. Ary, casado com Lauro e HIV-positivo há 29 anos, resume: “hoje eu posso viver!”. Luis Baron, vice-presidente da Associação EternamenteSOU, uma das poucas entidades no mundo que presta cuidado psicossocial – como atendimento psicológico e apoio jurídico – a idosos LGBT+, escreve no livro: “as velhices são tratadas hegemonicamente como heterossexuais, sem lugar para as diversidades que as compõem”. Ao lado de Carlos Eduardo Henning, doutor em antropologia social e professor da UFG (Universidade Federal de Goiás), e Sandra Regina Mota Ortiz, doutora em ciências pela USP (Universidade de São Paulo), é um dos coordenadores da obra, que dá início à coleção “Envelhecimentos Plurais” da Editora Hucitec, e é a primeira em língua portuguesa com um conjunto de depoimentos em primeira pessoa. Ao envelhecer, esse grupo fica ainda mais vulnerável, tornando-se vítima de negligência e discriminação, o que se traduz em barreiras de acesso à saúde, isolamento e solidão. De acordo com dados dos EUA, dos 4 milhões de idosos LGBT+ norte-americanos, 80% são solteiros; 90% não têm filhos; e 75% vivem sozinhos – na população em geral, esses percentuais são muito mais baixos: respectivamente, 40%, 20% e 33%. Por isso é tão importante que essas vozes sejam ouvidas. Reprodução da capa do livro Divulgação

Livro mostra como a velhice LGBT+ é um ato de resistência

Depoimentos retratam o enfrentamento de um duplo preconceito: contra o envelhecimento e a orientação sexual Na próxima quinta-feira, dia 7, será lançado “O brilho das velhices LGBT+”, com depoimentos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e pansexuais entre 47 e 72 anos. Sobre esse grupo pesam diversas camadas de estigma: além do etarismo ou idadismo, também o preconceito contra sua orientação sexual. Ao todo, foram 55 horas de gravação que resultaram em 20 relatos, colhidos durante seis meses ao longo do ano passado. Denise Taynáh é quem abre o livro, afirmando: “a sociedade me define como uma mulher trans, mas eu me percebo como uma mulher não genética”. Batizada como Luiz Celso, Denise viveu um papel masculino e foi pai sete vezes até os 50 anos. “Depois que meu pai faleceu, eu me soltei um pouco”, conta. Deu os primeiros passos como crossdresser (usando roupas femininas) e, aos poucos, foi descobrindo que não queria apenas montar um figurino caprichado, e sim ser feminina em tempo integral. Parada LGBT em Nova York: ao envelhecer, esse grupo fica ainda mais vulnerável, tornando-se vítima de negligência e discriminação LazarCatt Dora, lésbica de 67 anos, também se casou e teve uma filha, sem conseguir sentir prazer. Só mais tarde passou a viver sua sexualidade plenamente, mas relata duas experiências ruins: a de um relacionamento interesseiro e, outro, abusivo. José Carlos, bissexual de 54 anos, é incisivo: “sou negro, periférico, filho de pobre, entendeu? Sou um sobrevivente, um vitorioso, só por ser negro e estar vivo nessa idade, passando por tudo que um negro passou”. Ary, casado com Lauro e HIV-positivo há 29 anos, resume: “hoje eu posso viver!”. Luis Baron, vice-presidente da Associação EternamenteSOU, uma das poucas entidades no mundo que presta cuidado psicossocial – como atendimento psicológico e apoio jurídico – a idosos LGBT+, escreve no livro: “as velhices são tratadas hegemonicamente como heterossexuais, sem lugar para as diversidades que as compõem”. Ao lado de Carlos Eduardo Henning, doutor em antropologia social e professor da UFG (Universidade Federal de Goiás), e Sandra Regina Mota Ortiz, doutora em ciências pela USP (Universidade de São Paulo), é um dos coordenadores da obra, que dá início à coleção “Envelhecimentos Plurais” da Editora Hucitec, e é a primeira em língua portuguesa com um conjunto de depoimentos em primeira pessoa. Ao envelhecer, esse grupo fica ainda mais vulnerável, tornando-se vítima de negligência e discriminação, o que se traduz em barreiras de acesso à saúde, isolamento e solidão. De acordo com dados dos EUA, dos 4 milhões de idosos LGBT+ norte-americanos, 80% são solteiros; 90% não têm filhos; e 75% vivem sozinhos – na população em geral, esses percentuais são muito mais baixos: respectivamente, 40%, 20% e 33%. Por isso é tão importante que essas vozes sejam ouvidas. Reprodução da capa do livro Divulgação